Projeto Anjos da Guarda retoma atividades com nova estrutura para crianças e adolescentes

• Atualizado há 4 anos ago

Quando Lenilson Medeiros vestiu o uniforme de Guarda Municipal pela primeira vez, 26 anos atrás, o guarda Rafael Ribeiro dos Santos tinha apenas dois anos de idade. Medeiros faz parte da primeira turma de agentes da corporação e o hoje, guarda Dos Santos, que passou a infância sem nem pensar em trabalhar na segurança pública, formou na última, há cerca de cinco anos. O jovem, vindo do Maranhão, foi trabalhar no grupamento Rondac e no SOS Mulher, comandados pelo veterano Medeiros. Agora, Dos Santos se especializa de olho em novas experiências. “Eu me enxergo na Guarda daqui a 20 anos”, afirma.

As aspirações de Rafael dos Santos, estudante do curso de Gestão Ambiental, estão na criação de um grupamento ambiental da Guarda. É um  novo olhar de quem enxerga diferentes possibilidades para uma instituição que, inicialmente, formou 143 agentes para tomar conta de praças e hoje, conta com cinco grupamentos especializados, além da banda de música. “O grupamento Ambiental já existe em outras cidades e pra nós, rodeados de rios, de ilhas, seria muito interessante. Estou fazendo o curso para me preparar, me qualificar, porque seria muito bom ter profissionais qualificados pra desempenhar esse serviço”, defende.

Os 20 anos que ele prevê também já estiveram nos planos dos guardas Eduardo Melo e Cláudio Alex Oliveira. Eles se formaram juntos e há duas décadas dividem histórias na Guarda Municipal, algumas, nem sempre com final feliz, mas que serviram para fortalecer ainda mais os laços de amizade e companheirismo presentes na tropa.

Eduardo, que há 14 anos faz parte do Grupamento de Ações Táticas (GAT), foi um dos primeiros a chegar ao local onde Cláudio e o companheiro de trabalho dele atendiam uma ocorrência quando foram baleados. Nenhum dos dois consegue esquecer os detalhes daquele Dia dos Pais. “Foi uma comoção muito grande, senti uma dor muito grande. Saber que um colega tombou no exercício da função… é muito difícil a gente saber se utilizar do coração e ao mesmo tempo ser um profissional. Nessa hora  você tem que deixar o emocional e trabalhar o profissional, senão você não consegue trabalhar”, conta Eduardo.

Cláudio Alex, ferido no tiroteio, ficou quatro meses afastado até pedir para voltar. O retorno ao trabalho e o apoio que encontrou na tropa ajudaram a superar a morte do sub inspetor  S. Araújo. “Foi muito dolorido porque, além de companheiro de trabalho, era padrinho da minha filha, um cara bom de serviço, totalmente operacional. Eu queria voltar, pedi pra voltar, tive total apoio dos meus colegas”, relembra.

Desde que foi implantada oficialmente em 27 de setembro de 1991, a Guarda Municipal tem passado por inúmeras transformações, a principal delas é a valorização da vida. Nos últimos anos, os 1.008 homens e 171 mulheres da corporação passaram por uma série de cursos e qualificações que vão desde a linguagem dos sinais, para melhor atender quem tem dificuldades de se comunicar, até cursos de tiros e treinamentos específicos para gerenciamento de crises e ocorrências mais graves.

Ellen Melo já passou por algumas dessas situações graves. É uma das 20 mulheres da turma pioneira de 1991 e relata que pensou, inclusive, em desistir do trabalho por conta de um calçado salto 15 que fazia parte do uniforme. Descobriu logo depois que tinha alma de guarda quando, usando esse mesmo salto, correu e prendeu o bandido integrante de uma quadrilha responsável por uma série de assaltos e também pelo assassinato de um policial militar. “Depois dessa primeira ocorrência, que agi por impulso, descobri, naquele momento, que eu era guarda e iria ser guarda pro resto da minha vida”, orgulha-se.

“O feminino ainda é visto como sexo frágil, que a mulher tem que estar dentro do administrativo, não pode estar em viatura, não pode comandar, mas isso é errado, nós estamos aqui pra provar. A maioria das nossas guardas foi treinada e são capacitadas pra isso e estão prontas pra qualquer eventualidade. Temos guardas femininos em todos os grupamentos táticos”, destaca Ellen.

Medeiros, Dos Santos, Ellen, Eduardo e Cláudio Alex têm em comum o aprendizado e aperfeiçoamento nas adversidades. Sabem que precisam fazer a diferença no meio do caos, na vida de alguém que sequer tem noção do trabalho realizado, como ressalta, emocionado, Eduardo. “É muito gratificante saber que eu nem conheço aquele cidadão que está lá, mas que eu saio de casa com toda certeza de fazer um bom serviço e garantir que ele volte pra sua casa, pra sua família. E isso, as vezes, ele nem sabe que acontece”.

Histórias de vida e amadurecimento pessoal e profissional que refletem as experiências de trabalho, a convivência e os investimentos materiais e humanos ao longo de 26 anos da corporação. Motos, viaturas, armas, equipamentos, e, acima de tudo, conhecimento. Os cursos e palestras contribuíram para a formação de mais de mil servidores públicos que tinham como missão original proteger e guardar o patrimônio público municipal e que hoje, trabalham diretamente junto ao sistema de segurança pública, com uma série de ações e operações conjuntas. O resultado são quase quatro mil ocorrências envolvendo apreensões e prisões somente entre janeiro de 2016 e julho de 2017.

Hoje à frente da Guarda, o comandante Almir Ferreira, remanescente da primeira turma, tem a noção das experiências vividas e dificuldades superadas. Há apenas um ano e três meses no mais alto posto da corporação, reforça a premissa de que ser parte da Instituição Guarda Municipal de Belém é como ter mais uma família para se preocupar, cuidar e querer vê-la cada vez melhor.

“Construir uma história dá, de fato, muito trabalho. É necessário dedicação, empenho e total entrega à causa em que se acredita e se defende diariamente. Hoje ninguém tem dúvidas de que a organização Guarda Municipal de Belém é um exemplo de sucesso. Porém, a caminhada continua e somente juntos apontaremos soluções para a realidade de nossa instituição em benefício da sociedade, prevalecendo uma voz, a da união de todos”, enfatiza o comandante.

Solenidade – Os 26 anos da Guarda Municipal de Belém serão comemorados com uma solenidade cívico militar na sexta-feira, 29, na sede do comando da GMB. Na ocasião o prefeito Zenaldo Coutinho fará a entrega da medalha Mérito Intendente Antônio Lemos para autoridades civis, militares e guardas municipais.

Atualmente a corporação tem em seu quadro funcional 1.179 guardas em 51 postos fixos e 154 postos volantes. Desde 2010, teve a missão ampliada, passando a ter como competência institucional a segurança urbana municipal e atribuições de proteger e guardar a população, parques, praças, jardins e logradouros públicos do município de Belém.

Matéria originalmente publicada na Agência Belém

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